Registro, a capital do chá no Vale do Ribeira
Registro está aproximadamente a 3h de Curitiba capital do Paraná e de São Paulo capital e faz parte da região do Vale do Ribeira que é formado por 29 municípios, sendo 22 paulistas, pertencentes ao Estado de São Paulo e 7 paranaenses, do Estado do Paraná e conta com uma das áreas de beleza natural mais exuberantes do Brasil, a maior área contínua de Mata Atlântica.
O Vale, que abraça as 3 famílias produtoras de chá nacional, possui, entre seus parques e reservas naturais, mais de 10 mil espécies entre fauna e flora declaradas, bioma este reconhecido como Patrimônio natural, socioambiental e cultural da humanidade, título conferido em 1999 pela UNESCO.
Com características como verões quentes e úmidos com temperaturas que variam entre 39°C e 12,5°C e solo ácido e bem arejado, é o cenário ideal para o cultivo da Camellia sinensis, a planta do chá.
Toda esta característica local é traduzida nos chás cultivados e produzidos, com aromas e sabores únicos e distintos (o que poderíamos chamar de terroir).
Imigrantes japoneses e o Vale do Ribeira
Tudo começou com a chegada dos imigrantes japoneses no Brasil.
Em 18 de junho de 1908, atracava no porto de Santos, o navio Kasato “Maru”, no cais número 14, com os primeiros 781 imigrantes japoneses. “Kasato-maru”, aliás, não é somente o nome próprio de uma embarcação. Para os japoneses que emigraram para o Brasil e seus descendentes, “Kasato-maru” é também um símbolo. Esse dia é comemorado no Brasil como o Dia da Imigração Japonesa; no Japão, ele é o Dia da Emigração Ultramarina.
A promessa de um acordo que duraria 5 anos entre os países, era de terras férteis e um futuro promissor para as famílias japoneses que desembarcariam no Brasil.
A principal atividade dos primeiros colonos era essencialmente agrícola, com cereais como arroz. Já a história com o chá no Vale teve início em 1913, no mês de novembro, quando ocorreu o assentamento da colônia de Iguape, que no futuro próximo foi batizada de colônia Katsura, e logo no ano seguinte, em setembro de 1914 ocorria o assentamento de 3 famílias em Registro onde estão situados a fazenda Amaya e o Sítio Shimada e 6 anos depois algumas famílias em 1920 no bairro da Raposa, onde está o Sítio Yamamaru.
Por isso , quando falamos de chás brasileiros, do Vale do Ribeira, estamos falando de chás dos municípios de Registro e Sete Barras, sinal próspero de um resgate a cultura do chá com muito trabalho e dedicação da comunidade.
Fim do cultivo e produção de chá nacional
Durante as últimas décadas do século passado, uma série de fatores a cada ano que passava vinha dificultando a sobrevivência do chá preto (até então somente a família de chás pretos era produzida), como alto custo dos encargos sociais trabalhistas, a má qualidade da matéria-prima para fornecimento ao mercado externo e até mesmo as questões ambientais.
Com todo esse cenário, somado ao plano real que despencou o câmbio do dólar, na década de 90, a produção de chá nacional no Vale do Ribeira se tornou inviável, já que, cerca de 90% sua produção era voltada para a exportação, sem esperança e perspectiva de consumo no mercado interno.
Como o chá chegou no Vale do Ribeira?
Erradicado na colônia de Registro, na década de 30, mais precisamente em 1934 Torazo Okamoto teria uma importante participação na história do chá nacional, no Vale do Ribeira.
Torazo Okamoto era técnico de indústrias de chá no Japão e seu eu grande sonho era trabalhar com chá preto, agregando a cultura à produção de chá.
Na época, as plantas que chegaravam no Vale do Ribeira apresentavam baixa produtividade, pois a variedade cultivada na região era de origem chinesa, Camellia sinensis var. sinensis e esse fator instigou Torazo Okamoto, fazendo com que percebesse uma oportunidade e introduzisse então, a variedade indiana, a Camellia sinensis var. assamica.
Com isso em mente, Okamoto retornou ao Japão anos mais tarde e na volta trouxe consigo sementes provenientes do Sri Lanka, onde ele teve acesso durante uma parada do navio no país. As sementes germinaram durante a viagem e uma vez no Brasil, foram plantadas em Registro.
Uma vez implementada e amplamente adaptada, dava origem a uma nova história do chá nacional no Vale do Ribeira e a partir da década de 1940 a agroindústria do chá preto, popularmente chamado de “produto do chá da Índia”, superou as outras culturas locais.
Chá nacional, o ouro verde
Entre as décadas de 1950 a 1980 o chá era considerado o ouro verde, a região chegou a ter 5 mil hectares de cultivo, 600 produtores e contava com aproximadamente 42 indústrias, sendo aproximadamente 11.500 toneladas/ano de produção e a maior parte sendo destinada a exportação, mercado externo, cerca de 90%.
Neste momento, mais de 24% da população dependia diretamente da ocupação deste setor, pois estavam envolvidos com o cultivo do chá. E, grandes empresas, como a Amaya, já empregavam seus colaboradores dentro de todas as Leis.
Muito embora a soma da produção nunca representasse mais do que 3% da produção mundial de chá, os chás produzidos no Vale, concorriam com os chás produzidos na África, Argentina, Inglaterra, tanto no consumo puro quanto na forma de Blends (chás mistos com a adição de flores, frutas ou especiarias, ou mistos da mesma família, como English Breakfast).
Os chás do Vale, Amaya, Shimada e Yamamaru
O Vale vive um resgate. No bioma da Mata Atlântica, encontramos 3 famílias que resistiram às intemperes do tempo e que inovam, arriscam e lutam.
De lá, encontramos chás ortodoxos, de folhas inteiras e chás não-ortodoxos, de folhas cortadas. Chás orgânicos e agroflorestais. Além do tradicional chá preto da região, nos últimos anos as famílias Amaya, Sítio Shimada e Sítio Yamamaru lançaram chás verdes, verde em pó, chá oolong e chá branco.
Se você quiser conhecer o Vale do Ribeira como nós, venha conosco durante a ROTA DO CHÁ.