O sítio Yamamaru
O sítio Yamamaru está localizado no Bairro da Raposa, no município de Sete Barras, no Vale do Ribeira, em São Paulo. O bairro aliás, mantém uma das mais antigas e tradicionais comunidades japonesas do Brasil.
Produtores de chá no Brasil, o sítio Yamamaru cultiva e processa suas próprias folhas de Camellia sinensis em sua grande maioria, variedade assamica, indiana, entregando um chá verde artesanal do tipo ortodoxo, de folhas inteiras e sob o método SAF, um sistema agroflorestal que explicaremos ao longo do texto.
Abaixo, um pouco sobre a história do bairro da Raposa, próximo a Registro, no Vale do Ribeira/SP e a importância do chá no contexto histórico cultural, pelas palavras de Miriam, a mestra de chás do sítio Yamamaru, em uma entrevista concedida para a Infusorina:
“ As famílias da comunidade da Raposa se ajudavam muito entre si, desde a época da colonização, em torno de 1913, onde a primeira família que chegou, está lá até hoje. As famílias foram colonizando aquelas áreas, com muita garra e coragem. Formaram 21 casas de conversas, onde se reuniam para conversarem e se ajudarem , principalmente para resolverem os problemas das estradas.
Com o passar dos anos, as casas de conversa desapareceram e em 1955 fundou-se a Associação Nippo Brasileira do bairro da Raposa, recentemente alterada para ANBBRR (Associação Nippo Brasileira do Bairro da Raposa e Região).
Onde há 65 anos os moradores se reúnem mensalmente . Ali existiam também famílias que tinham alambiques e plantação de café. O café não prosperou, devido ao relevo e ao clima.
As famílias que se instalaram no bairro não conseguiam mais sair de lá, porque a estrada era péssima e a mudança a cavalo não era possível . O cavalo atolava, me contou dona Isabel, moradora do bairro.”
Tudo começou quando a família dos irmãos Yamamaru, Miriam e Kazu, que estão à frente da marca, desembarcou no porto de Santos no navio Santos Maru, em 1953.
O pai, Mitsutoshi Yamamaru assim que chegou no Brasil, com o apoio de amigos da mesma província do Japão, investiu no atual sítio, com cerca de 30 hectares de terra. Alguns anos depois, o cultivo da cultura Camellia sinensis, a planta do chá, foi iniciado.
Além de cultivar o chá, Mitsutoshi Yamamaru possuía uma atividade principal que economicamente mantinha sua família, a de carpinteiro.
Formado neste ofício no Japão, tinha uma agenda restrita de tempo, pois era responsável por grandes obras, algumas delas de profunda importância para a comunidade nipônica, como por exemplo, o telhado do Templo Budista de Registro, um projeto executado em colaboração com outros mestres arquitetônicos da região.
Mitsutoshi Yamamaru teve 7 filhos: Kazutoshi, Toshibumi, Marina, Celina, Aurora, Miriam e Suzana (em memória), e ficou a cargo do primogênito a responsabilidade pelo manejo do chá, que já estava sendo vendido para grandes empresas do mercado nacional, como a CAC (Cooperativa Agrícola de Cotia), uma das maiores Cooperativas de Agricultura no Estado de São Paulo, fundada em 1927 por imigrantes também japoneses.
Com o passar do tempo, a família aumentou a área de cultivo, adquirindo o sítio Palmeiras.
Kazu, agora totalmente inserido no negócio, do plantio ao cultivo e entrega do chá, coordenava a manutenção dos 20 hectares de Camellia sinensis var. assamica e uma equipe de 7 colaboradores que residiam dentro do sítio com suas famílias, em casas construídas por ele.
Sob o olhar atento de Kazu, a colheita acontecia de modo semi-manual ou seja, um processo que une mão de obra humana ao auxílio de maquinários. Além da colheita, havia também o cuidado com o tempo entre a retirada das folhas de chá da própria planta e a coleta realizada pelas fábricas de grande porte, que compravam o chá in natura (que é quando o chá ainda não recebeu o processamento) para o beneficiamento final.
A importância do planejamento e logística entre a colheita e a coleta eram imprescindíveis para evitar que as folhas de chá sofressem oxidação além do desejado, chegando à fábrica em condições favoráveis para um processamento e consequente produto final de qualidade.
O sítio em seu ápice, chegou a atuar com capacidade de produção de 2 mil toneladas de chá recém colhidos por dia, durante o período de safra/ano, na década de 1980.
Neste período onde o mercado internacional estava aquecido e o cultivo do chá era uma oportunidade, o sítio obteve bons resultados, e praticamente toda sua produção foi vendida para as grandes fábricas, como Chábrás, Amaya, CAC e Agrochá, que exportavam para os Estados Unidos, Europa e América do Sul.
Um novo ciclo do chá
O negócio continuou por mais uma década, quando em 1992, com o fim das exportações dos chás do Vale do Ribeira, e nenhuma expectativa de vendas para o mercado interno, a família foi forçada a arrendar considerável parte de sua propriedade e maquinários para empresas que desejavam e podiam manter o cultivo do chá na região.
No ano de 2008 a família reassumiu suas áreas como um todo, voltando os fins comerciais e de subsistência à produção de orgânicos, vendendo suas mercadorias para lojas locais e para a capital do Estado, São Paulo. Com este movimento, o chazal começa então a ser recuperado.
O Chá Agroflorestal
Em 2011, Kazu conheceu o Dr. Engenheiro Guenji Yamazoe, pesquisador científico, aposentado do Instituto Florestal(IF) com reconhecido currículo e histórico, que apresentou à família Yamamaru, o Sistema Agroflorestal (SAF).
Dando início assim, a recuperação das plantações abandonadas, agora no meio da floresta, por meio do programa de resgate do cultivo do chá e de revitalização da comunidade rural, um manejo que permite cultivar a planta do chá em conjunto com outras culturas, como no caso do sítio Yamamaru, o palmito Juçara.
Desta forma, a retomada da Camellia sinensis como agronegócio para a família se torna possível, mantendo a mata nativa que cresceu abundantemente nos anos em que o chazal esteve desativado.
Yamamaru, Tomio Makiuchi e Shimada
Entre os anos de 2015 e 2016, os irmãos Miriam e Kazu iniciaram a colheita do chá recuperado, levando as folhas para o Sr. Tomio Makiuchi, uma importante referência do chá nacional do Vale do Ribeira e Teresinha Shimada, mestra de chás do sítio Shimada, que produz chás orgânicos dos tipos branco, verde e preto, afim de que os mesmos realizassem testes de processamento.
Na mesma época, o sítio começa a receber um turismo rural, modelo pioneiro na região. Os testes com o chá obtiveram bons resultados, assim como o movimento no turismo.
Miriam Yamamaru estagia no Japão
Em 2017 Miriam viaja ao Japão para um intercâmbio cultural e lá, participa de um estágio em uma fábrica de chá, aprendendo uma técnica de processamento manual de chá verde que, ao chegar no Brasil, aplica nos chás colhidos, passando para seu irmão Kazu, todas as técnicas e detalhes.
O método, um processamento chinês, foi aplicado na produção do chá verde agroflorestal do Sítio Yamamaru, recebeu algumas alterações adaptadas à variedade e à cultura local.
Durante o estágio:
Até a data deste post, os pés de Camellia sinensis que ficaram 25 anos adormecidos estão sendo aos poucos retomados e embora o avanço tenha sido de apenas 2% de área, o esforço e o trabalho prometem muito aos consumidores ávidos por chás especiais.
A família pretende ainda em 2021, lançar uma novidade que contaremos em primeira mão na Infusorina!
Conheça mais sobre a família durante a ROTA DO CHÁ clicando aqui.