Camellia sinensis e o chá

Nem tudo que ouvimos e consideramos chá, é de fato, chá.
O verdadeiro chá é feito com folhas colhidas da espécie chamada Camellia sinensis, a planta do chá.

É sabido que, coloquialmente, a palavra “chá” é frequentemente usada para se referir a todas as ervas, flores, especiarias e até mesmo frutas desidratadas que são colocadas em imersão na água quente.

Mas tecnicamente, o chá é o processamento que se dá às folhas da Camellia sinensis, que é uma árvore/arbusto perene, nativa da parte do sudeste da Ásia, na província chinesa de Yunnan que se encontra com a região indiana de Nagaland e as áreas ao norte de Mianmar, Tailândia, Laos e Vietnã. Regiões mundialmente famosas no cultivo e processamento de chá.

A planta do chá inclusive, quando permitida que esteja em seu estado natural, ou seja, sem a poda para produção, cresce como uma árvore, podendo atingir cerca de 6 metros de altura para variedades de folhas pequenas, a mais de 50 metros de altura para as antigas árvores de folhas largas que crescem em Yunnan.

Camellia sinensis a planta do chá
Camellia sinensis, a planta do chá

A origem do nome Camellia sinensis (L.) O. Kuntze

Embora a planta do chá seja de origem chinesa, a pesquisa afundo sobre a mesma foi realizada em maior parte pelos europeus. A busca sobre esse olhar botânico e genético para obter uma classificação contribuiu não somente para o conhecimento acerca da Camellia sinensis, mas também para que muitas técnicas de melhora em seu cultivo pudessem ser desenvolvidas.

A primeira descrição científica aconteceu no ano de 1712, pelo médico e naturalista alemão Dr. Engelbert Kaempfer que foi também um dos primeiros médicos europeus a chegar na Persia, contratado pela Compahia Holandesa das Índias Orientais. Dr. Engelbert tem sua história com o chá marcada pela publicação do manual chamado “Amoenitatum Exoticarium“, que descreveu pela primeira vez muitas plantas que conheceu durante suas viagens pelo Oriente, incluindo Índia e Japão, e entre elas, estava mencionado a planta do chá, descrita como Thea Japonense.

A segunda aconteceu através e Carl Von Linnaeus, cientista e naturalista, no ano de 1750, no manual publicado por ele, chamado de “Species Plantarum”, constava mais de 7.300 plantas mencionadas, com mais de 1200 páginas, dividido em 2 volumes. O manual de Carl foi reconhecido como o começo da nomenclatura botânica moderna e para citar o chá, considerou o trabalho realizado pelo Dr. Engelbert, e renomeou a planta do chá como Thea sinensis.

Ainda durante suas pesquisas, Carl diferenciou a planta do chá em duas variedades, das quais descreveu como: Camellia japonica e Camellia sasanqua. Por isso, até a época citada, o chá era amplamente conhecido através de dois nomes, Thea e Camellia.

Mas foi em 1959, após intensos estudos e debates incansáveis entre a comunidade de cientistas botânicos que a IAPT (International Code of Botanical Nomenclature), um Código que é o conjunto de regras e recomendações internacionalmente aceitas regendo a denominação de algas, fungos e plantas, definiu chá como Camellia sinensis.

Camellia sinensis
Camellia sinensis

Honra e dedicação ao chá

O termo botânico completo, muito embora pouco visto e reconhecido da planta do chá é Camellia sinensis (L.) O. Kuntze. O L, representa a inicial de Linnaeus, o segundo pesquisador a citar o chá em manuais, e a o final O. Kuntze faz homenagem ao botânico que em 1881 sintetizou toda pesquisa realizada. Por isso, o nome da planta do chá, por fim, se destaca por toda a história em sua descoberta.

O nome cita, inclusive, no termo Camellia, a lembrança ao pesquisador George Joseph Kamel, o primeiro europeu reconhecido pela história, a estudar botânica com os asiáticos, publicando a obra Hierbas y Plantas Medicinales de la Isla de Luzón Filipinas. George além de estudar exaustivamente sobre as plantas da ilha, cultivava ervas medicinais para tratar os mais necessitados do local, valendo-se então, de grande memória para os botânicos.

A Camellia sinensis var. sinensis e var. assamica

A planta do chá é dividida em duas variedades principais, a Camellia sinensis var. sinensis e a Camellia sinensis var. assamica e muito embora todos os chás que consumamos sejam produzidos com as duas citadas acima, existe ainda uma terceira variedade, mas menos conhecida chamada var. cambodiensis, usualmente utilizada para a clonagem de cultivares selecionados, falaremos abaixo sobre eles.

Comparativo de folhas da Camellia sinensis var. sinensis, de origem chinesa e da Camellia sinensis var. assamica, de origem indiana

A variedade assamica recebe esse nome pois é originária da região de Assam, uma província na Índia e é conhecida por suas folhas largas, quando comparada com a var. sinensis, que significa “de origem chinesa”. A variedade indiana evoluiu a medida que a planta do chá foi transportada de sua terra natal na China, de clima subtropical para o clima mais temperado, como é a Índia.

Camellia sinensis no Brasil

No Brasil também é possível encontrar a Camellia sinensis var. assamica e os mais importantes produtores do chá nacional encontram-se no Vale do Ribeira, e a maior produção do chá nacional é encontrada na cidade de Registro/SP. Você pode conhecer um pouco mais sobre a história do chá brasileiro clicando aqui e ainda saber sobre a Rota do Chá, nesse link aqui.

Entre os produtores de chá nacional, destacam-se a Amaya Chás, o Sítio Yamamaru, o Sítio Shimada e a Yamamotoyama. Os melhores chás de produção nacional podem ser encontrados no site da Infusorina.

Cultivares de chá

A cada momento que passa, a tecnologia aliada ao crescimento do mercado, facilita com que os produtores de chá desenvolvam cultivares que demonstram qualidades preferenciais, como uma complexidade aromática ou a resistência para prosperar em períodos de geada ou seca.

Por isso, sob cada uma das variedades de chá, há centenas de cultivares, que nada mais são que variedades identificadas com os potenciais citados sendo clonadas.

As colheitas da Camellia sinensis

As plantações de chá cultivadas são administradas pela poda através de fileiras, tornando mais fácil colher as folhas novas que brotam, pois elas despontam visualmente logo em cima da “mesa”. Até o ano de 2021 a maior parte do chá colhida no mundo é à mão e ao longo das estações e safras, as plantas de chá germinam novos brotos. A depender da região, pode-se ter de 3 a 4 colheitas distintas a cada safra.

Durante os meses de inverno, as plantas descansam e sua energia e nutrientes são armazenados nas raízes, já na primavera, esses nutrientes são absorvidos e se concentram nos novos brotos, em potencial crescimento. Por esse motivo, a colheita da primavera, mundialmente conhecida como first flush, costuma ser a mais valorizada do ano, por transmitir nos chás processados toda uma temporada adormecida, potencializados aromas e sabores dos chás.

Os 6 tipos de chá

O mundo moderno da Camellia sinensis reconhece 6 categorias de chá, também chamadas de famílias: verde, amarelo, branco, oolong (ou wulong), preto e escuro (como o tipo Pu’er). A principal característica levada em consideração para classificar o chá em uma categoria é o grau de oxidação polifenóica.

Essa oxidação, no caso, é uma reação enzimática semelhante que ocorre com as folhas de chá, comparada com o escurecimento de uma maçã cortada ou de folhas de manjericão recém colhidas.

A arte de processar o chá

Para o chá, é o processo bioquímico que muda as folhas ainda in natura, para os diversos tons que recebe, amarelas, âmbar, marrons e etc. Por isso, a arte de processar o chá envolve habilmente a oxidação e desidratação destas folhas, por meio de uma série de etapas para atingir o sabor e aroma desejados pela fábrica de chá.

Por isso, dentro das 6 categorias citadas, há centenas de estilos de processamento, desde tradicionais e não tradicionais onde inúmeros fatores colaboram para a escolha, como por exemplo, aspectos socioculturais, a região de cultivo, o cultivar, época da colheita e técnica de elaboração.

Uma imensa de variedade de chás disponíveis no mercado

Se comparada ao passado, há uma gama imensa de variedade de chás disponíveis no mercado e a vasta geografia onde o chá é cultivado atualmente é ainda mais surpreendente, dadas as primeiras raízes do chá, onde as pesquisas antropológicas indicam que a planta era originalmente colhida de forma selvagem e consumida como um vegetal amargo, cozido em sopas nutritivas e como um remédio popular preparado como um tônico de vitalidade.

O que torna o chá como uma bebida milenar e cheia de surpresas pois, quanto mais descobrimos sobre ela, mais ainda há que aprender.

Saiba mais sobre a Camellia sinensis e tudo o que gira em torno do mundo do chá!

Gostaria de conhecer ainda mais sobre o mundo do chá? Siga a Infusorina no instagram, para saber das últimas novidades em chás e todo o estilo de vida cheio de aromas e leveza.