Como eu descobri a Amaya
O ano era 2014, eu havia recém feito uma degustação com Yuri Hayashi da Escola de Chá Embahú e na sequência, viajado até a Argentina para me especializar como Sommelière de chá (ainda sem fins empreendedores). E, bom, para finalizar o curso, eu precisava apresentar um trabalho de conclusão que pedia o uso de chá preto. Foi quando entrei em contato com a Yuri perguntando se ela saberia de algum chá preto nacional, afinal, minha mãe, Sandrinha, sempre passeou pela casa com uma caneca (bem cheia) de chá preto Tupy.
A Yuri retornou com uma luz: a Amaya! Informou o contato e mais do que prontamente, dei o primeiro “oi!”. Foi um caminho sem volta. Ali nascia minha história com a família Amaya e com os chás do Vale do Ribeira.
Sou Renata Acácia e é sobre esta história incrível que vou falar para vocês nesse post.
O Vale do Ribeira
Foi em 02/02/2015, depois de algumas horas de estrada em um dia e domingo, que cheguei em Registro, no Vale do Ribeira/SP. Os planos eram visitar a fábrica Amaya Chás, a última e única indústria em seu segmento desde a época de ouro do chá no Brasil, uma empresa familiar que, logo eu viria comprovar, com o passar do tempo aprimorou seus produtos, inovou e continuou trazendo qualidade às xícaras de chás puros ou blends.
E então a Amaya, que cultivava e processava chá há mais de 80 anos Camellia sinensis, era o meu destino.
O Museu Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha
Ainda era domingo e o relógio marcava 17h01 quando pisei no até então Memorial da Imigração Japonesa do Vale do Ribeira, um museu presente no complexo recuperado K.K.K.K., que significa Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha Companhia Ultramarina de desenvolvimento SA. O local estava previsto para fechar 17h de domingo, mas, por sorte, na segunda por ausência de um colaborador, o museu não abriria então, Komisori (a atendente) permitiu a entrada e me deixou com tempo livre.
Claramente o passeio aconteceu de forma mais apressada, afinal, quem não quer, no domingo, ir para casa descansar? No entanto, agradeço até hoje a oportunidade. O museu foi fechado e com ele, histórias ficaram atrás de portas fechadas.
Bom, durante a visitação, pude conferir duas peças de produção de chá da década de 80 doadas pela família Amaya o que por si só, teria sido o mais próximo até então, do que eu consideraria o chá na minha vida, além das inúmeras xícaras presentes no dia a dia.
Na segunda-feira fora, como combinado, nos encontramos no hotel para seguirmos até a fábrica. Como preparada [digo, ansiosa] que sou, às 8h estava pronta. Quando o relógio completou 8h20, André me liga e pergunta se, caso estivéssemos prontos, poderíamos sair na sequencia.
O encontro com a Amaya
André que, já em 2015 era colaborador da Amaya há 7 anos, chegou com Mário Amaya, diretor de produção. Seguimos em dois carros para a fazenda, chovia e eu já estava triste pois havia sido informada que em caso de chuva: “não terá chá verde, Renata”.
Ao chegarmos na fazenda, conheci Milton Amaya diretor administrativo e Riogo Amaya, mestre de chá e coração da produção. Conheci também o Disney, colaborador da história da Amaya Chás.
Lembro das palavras e do sentimento de honra e gratidão por estar ali, naquele momento, com aquelas pessoas e ter a certeza de que estava no lugar e momento certos. Riogo alertou: “Renata, em dia de chuva, não é bom para o chá verde, porque fica tudo molhado, e molhado não é bom para o chá verde, mas, vamos fazer mesmo assim, vamos secar, mudar tudo aqui e vamos fazer, tá bom? tudo bem? enquanto isso vamos lá ver a colheita.” Você responde o que? Um sim gigante com sorriso de orelha a orelha! ?
A primeira vez no chazal
MEU DEUS.
O coração quase parou. Não tanto pelo chá verde em si (mas também!) mas muito e principalmente pelo privilégio de estar ali, de haver sido recebida, de ouvir, de acompanhar… E, bom, fomos ao chazal!
Era a minha primeira vez em uma plantação de chás. E eu, que pensava que teria a oportunidade de conhecer um chazal apenas quando viajasse até a China, Índia ou Japão, me deparei com um chazal todo para os meus olhos. Acompanhei de perto a colheita mecanizada e tudo foi mudando na minha mente. Os valores foram se solidificando e eu, por experiência própria, construía e moldava a MINHA visão sobre o chá, livre de preconceitos e carregado de história.
A colheita de chás na Amaya
A Amaya realiza a colheita das folhas de chá com auxílio e maquinário, de um modo diferente, usa ao auxílio de maquinário para tal. Oferece chás não-ortodoxos (de folhas cortadas) com granulometria superior dentro sua categoria, com produção em grande escala. O método desde a colheita ao processo em fábrica é desenvolvido pela própria família. Diferente do que pensamos dos chás industriais, a Amaya não utiliza o comumente conhecido método CTC (Crush, Tearing and Curling). Por fim, a fábrica processa além do chá preto – carro-chefe da marca, também o chá verde, o primeiro oolong brasileiro não-ortodoxo e o chá verde em pó, para fins culinários.
Chá e a floresta
O cenário era perfeito, um sonho! Imaginem estar em um chazal no coração da Mata Atlântica? A Amaya, inclusive, mantém e conserva 70% de sua propriedade, atuando somente em 30% da mesma, mostrando-se uma empresa dinâmica e preocupada com o meio ambiente. Oferece chás que refletem todas as particularidades de sua indicação geográfica como a temperatura, o solo e as características culturais, traduzindo os mesmos em aromas e sabores únicos e distintos.
A fábrica Amaya Chás
Logo na sequência, voltamos para a fábrica. E, em nosso caminho de volta fui informada de que o chá ainda estava muito úmido e que precisaríamos aguardar, fomos então para a casa da fazenda.
Lá uma mesa incrível de chá foi nos esperava. No bule, um chá preto delicioso, degustei umas 4 xícaras e depois fui apresentada a outros tipos de chá, um verde em pó, que chegou geladinho. Mas, ao sentir o aroma e provar, logo constatei, era um blend de chá verde com arroz tostado, o familiar genmaicha ♥.
De muito diálogo, surgia uma parceria forte, assim como a cultura Japonesa, surgia uma amizade. Foi com essa amizade no peito, o sentimento gritante de que eu precisava mostrar ao Brasil que nós tínhamos chá que seguimos o dia.
Com o devido tempo dado ao chá, chegamos na fabrica, e pela primeira vez vi um processo de chá, na vida, do início ao fim.
Riogo, o mestre de chás, ia de um lado para o outro me contando tudo, e eu, ainda não acreditando que estava ali, ouvia atentamente.
Nem nos melhores sonhos, imaginaria que seguiria, ano após ano, ouvindo Riogo dentro da fábrica, e que teria o privilégio de acompanhar de perto, tantas transformações.
A Amaya Chás faz parte da programação da ROTA DO CHÁ no Vale do Ribeira e eu agradeço muito pela confiança depositada na Infusorina desde o começo, desde a formação, desde a transformação!
Retornamos da Amaya sempre com o sentimento reforçado de que estamos levando a cultura do chá nacional adiante.